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minha gata não insista, Disneylândias não vão te levar pro céu

Somos contos contando contos, nada. - Fernando Pessoa 

quinta-feira, novembro 16, 2006

21:36 - Os Artesões

Você provavelmente vai achar que eu sou um simples colecionador. Entretando é tudo um pouco mais complicado que isso. Uma apresentação ou introdução remeterá a meu pai, um dos homens que começou com o círculo.

Antes de mais nada, é importante falar, nós chamamos nossos items colecionáveis de "presentes", o porquê você irá entender em breve. Agora, meu pai: ele uniu um grupo de cleptomaníacos ricos e criou uma sociedade, ou coisa que o valha, você sabe como esse pessoal aprecia essas babaquices. Não pense que meu pai foi um doente desses que roubava as coisas por necessidade, não, ele só precisava de um público - ou parceiria - com o qual dividir seus feitos e para o qual expor sua galeria. Meu pai sempre fez o que fez pela arte, pela emoção, pela aventura. Eu acabei fazendo pelo hábito. O que importa para você é o que e não os porquês, eu já saquei.

Então, como sempre ocorre quando há procura, surgiu um mercado. Um pequeno, porém caro mercado de presentes. Obviamente o presente que realmente tem valor para nós é um adquirido a méritos próprios, comprá-los é subverter toda a beleza. Mesmo assim, às vezes há um presente tão especial que vale a pena prostituir o idealismo para levá-lo à galeria.

Quando herdei a galeria de meu pai, já possuia eu mesmo vários presentes únicos. Papai morreu do coração, aos 66 anos, mais de 30 anos depois de ter começado sua galeria privada e no décimo aniversário da Sociedade dos Artesões, da qual sou um dos dirigentes atualmente. Faleceu legando-me, entre os presentes comprados, um pequeno Van Gogh, um prato do terceiro Reich e uma caneta pessoal de Thatcher. Entre os mais valiosos, os quais ele mesmo conseguiu, estavam um cinzeiro da casa branca, um chapéu frânces, uma bandeja de prata personalizada em nome de G. e algumas camisetas da seleção uruguaia de 1950.

Ontem fui a uma exposição. Roberto T. tem uma meticulosidade impresionante. Todos os presentes acompanhavam uma ficha com os mais diversos dados, data e local onde foi adquirido, um pequeno conto sobre como tudo correu, algumas características físicas e por fim o preço. Estratosférico, uma vez que R. é um dos menos abonados do círculo e sobrevive basicamente como negociante de presentes. O item mais barato era um cinzeiro roubado há poucas semanas de um hotel canadense (quanto mais recente a aquisição, menor o valor), era até bonito, e o conto era bastante engraçado, mas não valia $3 000,00. Tanto é que não foi vendido..
Acabei comprando um presente que estava de olho há alguns anos: uma antiga espada encontrada e retirada do tórax de um cadáver, e por isso mesmo desvalorizada. Os puristas podem nem aceitá-la como parte de uma galeria séria, mas o sangue antigo endurecido em sua lâmina é como éter para mim.

Como já deve ter notado, tenho dificuldade para permanecer na mesma linha de raciocínio, não se preocupe, eu abordarei todos os detalhes, por mais voltas que sejam necessárias.

Explicando melhor. Qualquer coisa vale. De cinzeiros e saleiros de restaurantes baratos até armas de fogo com gravações personalizadas. Mesmo um item comum, como uma toalha de mesa, que tenha sido adquirido de alguma maneira estonteante, é muito apreciado. Minha galeria conta com mais de duas mil peças, algumas sem valor algum, outras avaliadas pelo especialista da Sociedade em vários milhões (é um colar que pertenceu a uma senhora bastante conhecida e que eu comprei por uma ninharia de um criado em pânico). O presente mais valioso que eu adquiri fora do mercado foi uma garrafa de vinho - levada dentro das calças. Um dos meus favoritos é um sabonete.

Como você já pode ver a essa altura, nossos presentes são bastante variados e valem (contando o preço comum) desde poucos centavos até milhares de dólares. As reuniões do círculo, organizadas pela Sociedade, juntam muitos "colecionadores" e rendem horas de boas histórias, risadas e barganhas. Roubar um item de uma galeria é expressamente proibido e traz resultados funestos, embora já tenha sido tentado - e, acredito eu, realizado - nas mais variadas ocasiões.

Uma discussão interessante é a validade do roubo. Entre quase todos os membros do círculo reza o consenso de que presente só é presente quando aquele que o adquiriu deixou o dono sem esse ter consciência do "furto". E também nunca foi muito polido fugir de um lugar para conseguir um presente. O mais adequado é, de maneira discreta, escondê-lo e levá-lo quando for se retirar. Como a imensa maioria de nós é bastante rica, não é problema levar items interessantes das grandes mansões européias ou das coberturas norte-americanas. Mesmo assim, eu garanto que o inusitado é bem mais divertido.

Bom, eu prometi mais detalhes do que revelei. Mesmo assim, você deveria estar agradecido por saber tanto, e quem sabe outro dia não continuamos nossa conversa.

Agora, por que você não me convida para um drink no seu apartamento?

pLink

pedro s.

Pedro S. S. 2005 > 2009 Creative Commons License
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