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minha gata não insista, Disneylândias não vão te levar pro céu

Somos contos contando contos, nada. - Fernando Pessoa 

quarta-feira, junho 29, 2005

23:32 - Natália

Vamos falar de pesticida
E de tragédias radioativas
De doenças incuráveis
Vamos falar de sua vida
Preste atenção ao que eles dizem
Ter esperança é hipocrisia
A felicidade é uma mentira
E a mentira é a salvação
Beba desse sangue imundo
E você conseguirá dinheiro
E quando o circo pega fogo
Somos os animais na jaula
Mas você só quer algodão-doce
Não confunda ética com éter
Quando penso em você eu tenho febre
Mas quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
Mas quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
É complicado estar só
Quem está sozinho que o diga
Quando a tristeza é sempre o ponto de partida
Quanto tudo é solidão
É preciso acreditar num novo dia
Na nossa grande geração perdida
Nos meninos e meninas
Nos trevos de quatro folhas
A escuridão ainda é pior que essa luz cinza
Mas estamos vivos ainda
E quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
Quem sabe um dia eu escrevo
Uma cancao pra você

etc

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pedro s.
quinta-feira, junho 23, 2005

00:19 -

Sebastian met Isabelle outside Hillhead Underground Station, in Glasgow. Belle harassed Sebastian, but it was lucky for him that she did. She was very nice and funny, and sang very sweetly. Sebastian was not to know this, however. Sebastian was melancholy.

He had placed an advert in the local supermarket. He was looking for musicians. Belle saw him do it. She asked him to teach her to play guitar. Sebastian doubted he could teach her anything, but he admired her energy, so he said, 'Yes'.

It was strange, Sebastian had just decided to become a one-man band. It is always when you least expect it that something happens. Sebastian had befriended a fox because he didn't expect to have any new friends for a while. He still loved the fox, although he had a new distraction. Suddenly he was writing many songs. Sebastian wrote all of his best songs in 1995. In fact, most of his best songs have the words 'Nineteen Ninety-five' in them. It bothered him a little. What will happen in 1996?

They worked on songs in Belle's house. Belle lived with her parents, and they were rich enough to have a piano. It was in a room by itself at the back of the house, overlooking the garden. This was where Belle taught Sebastian to put on mascara. If Belle's mum had known this, she would not have been happy. She was paying for the guitar lessons. The lessons gave Sebastian's life some structure. He went to the barbers to get a haircut.

Belle and Sebastian are not snogging. Sometimes they hold hands, but that is only a display of public solidarity. Sebastian thinks Belle 'kicks with the other foot'. Sebastian is wrong, but then Sebastian can never see further than the next tragic ballad. It is lucky that Belle had a popular taste in music. She is the cheese to his dill pickle.

Belle and Sebastian do not care much for material goods. But then neither Belle nor Sebastian has ever had to worry about where the next meal is coming from. Belle's most recent song is called Rag Day. Sebastian's is called The Fox In The Snow. They once stayed in their favourite cafe for three solid days to recruit a band. Have you ever seen The Magnificent 7? It was like that, only more tedious. They gained a lot of weight, and made a few enemies of waitresses.

Belle is sitting highers in college. She didn't listen the first time round. Sebastian is older than he looks. He is odder than he looks too. But he has a good heart. And he looks out for Belle, although she doesn't need it. If he didn't play music, he would be a bus driver or be unemployed. Probably unemployed. Belle could do anything. Good looks will always open doors for a girl.

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pedro s.
terça-feira, junho 21, 2005

00:00 - Hail to the Winter

JUNHO

Edgar Poe, the ancient raven et moi. Penso no refrão de uma milonga minha, onde sobrevôo Porto Alegre: "Nunca mais, Nunca mais". O "Nevermore, Nevermore" do pássaro de Poe. Nunca havia pensado nisso. Boto na memória, desligo o computador e vou outra vez até a janela. Limpo o vidro, olho para a rua. No fundo, isso tudo é apenas o que meu olho inventa: Satolep. No tabuleiro rigoroso dessas ruas e na arquitetura minuciosa desses prédios a vida contemporânea explode em sua diversidade. Quando a noite chega, mil outras vezes a explosão se espalha em coisas que a cidade sonha. E a neblina desce e se instala. Estética do frio.*

A milonga em questão viria quatro anos depois, Ramilonga: Chove na tarde fria de Porto Alegre, trago sozinho o verde do chimarrão, olho o cotidiano, sei que vou embora, "Nunca mais, Nunca mais". Chega em ondas a música da cidade, também eu me transformo numa canção (ares de milonga vão e me carregam por aí, por aí, Ramilonga, Ramilonga). Sobrevôo os telhados da Bela Vista, na Chácara das Pedras vou me perder, noites no Rio Branco, tardes no Bom Fim, "Nunca mais, Nunca mais". O trânsito em transe intenso antecipa a noite riscando estrelas no bronze do temporal. O tango dos guarda-chuvas na Praça XV confere elegância ao passo da multidão, triste lambe-lambe, aquém e além do tempo, "Nunca mais, Nunca mais". Do alto da torre a água do rio é limpa, Guaíba deserto, barcos que não estão Ruas molhadas, ruas da flor lilás, Ruas de um anarquista noturno, Ruas do Armando, Ruas do Quintana, "Nunca mais, Nunca mais". Do alto da bronze eu vou pra cidade baixa, depois as estradas, praias e morros, vaga visão, viajo e antevejo a inveja de quem descobrir a forma com que me fui. Ares de milonga sobre Porto Alegre, Nada mais, Nada mais.

Por aqui temos o solstício frio, vá até a janela e saúde o inverno que chega!

*Esse é um pedaço do texto de Vitor Ramil publicado na coletânea "Nós, os gaúchos" nos idos de 1993, que ele transformou no livro "A Estética do Frio" recentemente.

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pedro s.
domingo, junho 19, 2005

23:48 - meu querido web log...

Como espero que no distante futuro eu possa reler essa tralha toda e lembrar de algumas coisas já então esquecidas dos "anos dourados" da minha juventude, cabe aqui alguns comentários do tipo "meu querido diário".

Sexta feira eu voltei a comunicar-me com uma ex-colega do curso de inglês com quem tinha "cortado-relações" (não objetivamente) devido a problemas amorosos ou coisa semelhante. Sábado, eu, ela e mais umas onze pessoas (entre ex-colegas e seus conhecidos), que no fim viraram dezoito, saímos pra beber, jogar sinuca, se divertir, etc. Depois de muita indecisão acabamos bebendo cerveja na Lima e Silva e dando bandas pelas calçadas chuvosas das proximidades da Santana (não, não jogamos sinuca). Hoje saímos novamente (dessa vez num bando menor) para ver um concerto. Mensagem salva, grande amizade reatada, \o/.

Chega dessa chatisse pessoal, vamos para a chatisse global normal desse blog.

Eraserhead

Primeiro longa metragem do David Lynch (de 1977) já mostra a adoração do diretor pelo bizarro. O filme trata da vida de Henry Spencer em um opressivo mundo, seu encontro com a família da namorada (onde diversos fatos estranhos acontecem), o filho que ele é "obrigado" a assumir, o qual parece uma mistura de ET e mutante, e mais uma boa dezena de acontecimentos irreais pelos quais o protagonista se aventura. Em preto e branco, consegue uma atmosfera legal e uma fotografia simples e escura condizente com a trama. Infelizmente ainda não existe o filme nem no Brasil nem nos EUA, e o jeito e piratear pelo Bit Torrent.






Notas:
Geral: 4/5
Técnica: 4/5
Roteiro: 3/5
Atmosfera: 5/5


Estrada Perdida

Outro do David Lynch, revi ele ontem, era até então meu favorito, agora já estou oscilando entre ele e o "Cidade dos Sonhos". Basicamente, Fred Madison é considerado culpado de assassinar sua mulher Renee sob circuntâncias misteriosas. Inexplicavelmente ele se transforma em um jovem chamado Pete Dayton no corredor da morte. Quando libertam Pete, sua vida e a de Fred misturam-se em uma cadeira de mistério surreal. No meio de tudo Lynch nos brinda com personagens bizarros e assustadores, máfia, cinema pornográfico e cenas "inexplicáveis".

Acho que existe mais de uma interpretação para o filme, mas isso importa pouco, a questão aqui não é entender: é bem mais importante deixar-se envolver pela atmosfera, aproveitar o suspense e o sentimento de confusão.
A trilha sonora cai como uma luva, mesmo usando uma salada de bandas diferentes ele consegue manter o clima dark. Tocam Rammstein, Marilyn Manson (que faz uma ponta como ator pornô), David Bowie, Lou Reed, Smashing Pumpkins, Nine Inch Nails e, claro, Angelo Badalamenti.

Não posso esquecer da Patricia Arquette, totalmente muito foda!



Notas:
Geral: 5/5
Técnica: 4/5
Roteiro: 5/5
Atmosfera: 5/5

Acabei de ler "Pedras de Calcutá" e "inventário do ir-remediável" ambos do Caio Fernando Abreu, contos como sempre, ambos bem legais, embora o inventário (que foi seu primeiro livro publicado) seja o menos interessante dos que li até agora.

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pedro s.
sábado, junho 18, 2005

03:32 - pierrot le fou

O primeiro contato com o filme foi através de um poster, na casa de um colega, as imagens do filme eram quase hipnóticas, depois de vários meses eu consegui ver o filme pela metada na tv e hoje finalmente revi ele todo. Incrível, qualquer coisa que eu falar sobre o filme vai diminuí-lo (de qualquer forma, ali em baixo eu diminuo o filme), imagens passam a idéia um pouco melhor...







Provavelmente um dos 10 melhores filmes que já vi: diálogos cool, sketches musicais irreais, pitadas de nonsense, piadas com o cinema, confissões personagem->espectador, cores impressionantes, trilha sonora estranhamente legal, críticas hilárias à propaganda, muitas cenas memoráveis e, claro, Anna Karina e Jean-Paul Belmondo em um filme de Jean-Luc Godard.

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pedro s.
quinta-feira, junho 16, 2005

18:25 -

"I was never faithful
And I was never one to trust
Borderlining schizo
And guaranteed to cause a fuss"
Placebo, Black Eyed

Border-line ela dissera-lhe. Essas coisas - depressões, neuroses, compulsões - andavam na moda, ele não levou a questão a sério. Nunca imaginou que ela pudesse mesmo se matar, as crises, os benzodiazepínicos e barbitúricos, a arma (herança do avô) dentro da gavetinha do criado-mudo: tudo parecia um excitante charme alternativo, não uma ameaça real. Após três meses de relacionamento, namoro soava muito antiquado, sentia-se mais animado, ela também parecia feliz, então por que diabos encher-se de comprimidos com gim e vomitar toda a cama antes de morrer, sozinha?
Se ao menos ela tivesse, se arrependido, feito como nos filmes americanos, os paramédicos salvariam sua vida sem muita dificuldade, mais algumas sessões infrutíferas de análise e tudo voltaria ao normal: os dois, juntos, felizes. Mas dificilmente a vida era tão promissora quanto Hollywood mostrava.
Deu a volta na cama, segurando o vômito que subia para dialogar com o cheiro do vômito dela, abriu a gaveta do móvel envelhecido, pegou o pequeno revólver e deu dois passos pra trás - o cheiro era quase insuportável. O fato já estava consumado, encostou a arma contra a cabeça, "como Romeu e Julieta" sorriu, irônico, quase lírico.

Entretando, não aperta o gatilho, lança a arma sobre o inerte e frio corpo, pega o casaco e sai.

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pedro s.
quarta-feira, junho 15, 2005

23:52 - Diante da Lei

“Diante da lei está um porteiro. Um homem do campo dirigi-se a este porteiro pede para entrar na lei. Mas o porteiro diz que agora não pode permitir-lhe a entrada. O homem do campo reflete e depois pergunta se não pode entrar mais tarde. ‘É possível’, diz o porteiro, ‘mas agora não’. Uma vez que a porta da lei continua como sempre aberta, e o porteiro se posta ao lado, o homem se inclina para olhar o interior através da porta. Quando nota isso, o porteiro ri e diz: ‘Se o atrai tanto, tente entrar apesar de minha proibição. Mas veja bem: eu sou poderoso. E sou o último dos porteiros. De sala para sala, porém, existem porteiros cada um mais poderoso que o outro. Nem mesmo eu posso suportar a visão do terceiro’. O homem do campo não esperava tais dificuldades: a lei deve ser acessível a todos e a qualquer hora, pensa ele; agora, no entanto, ao examinar mais de perto o porteiro, com o seu casaco de pele, o grande nariz pontudo e a longa barba tártara, rala e preta, ele decide que é melhor aguardar até receber a permissão de entrada. O porteiro lhe dá um banquinho e deixa-o sentar-se ao lado da porta. Ali fica sentado dias e anos. Ele faz muitas tentativas para ser admitido, e cansa o porteiro com os seus pedidos. Às vezes o porteiro submete o homem a pequenos interrogatórios, pergunta-lhe a respeito da sua terra e de muitas outras coisas, mas são perguntas indiferentes, como as que costumam fazer os grandes senhores, e no final repete-lhe sempre que ainda não pode deixá-lo entrar. O homem, que se havia equipado bem para a viagem, lança mão de tudo, por mais valioso que seja, para subornar o porteiro. Este aceita tudo, mas sempre dizendo: ‘Eu só aceito para você não achar que deixou de fazer alguma coisa’. Durante todos esses anos o homem observa o porteiro quase sem interrupção.. Esquece os outros porteiros e este primeiro parece-lhe o único obstáculo para a entrada na lei. Nos primeiros anos amaldiçoa em voz alta e sem consideração o acaso infeliz; mais tarde, quando envelhece, apenas resmunga consigo mesmo. Torna-se infantil e uma vez que, por estudar o porteiro anos a fio, ficou conhecendo até as pulgas de sua gola de pele, pede a estas que o ajudem a fazê-lo mudar de opinião. Finalmente sua vista enfraquece e ele não sabe se de fato está escurecendo em volta ou se apenas os olhos o enganam. Contudo, agora reconhece no escuro um brilho que irrompe inextinguível da porta da lei. Mas já não tem mais muito tempo de vida. Antes de morrer, todas as experiências daquele tempo convergem na sua cabeça para uma pergunta que até então ainda não havia feito ao porteiro. Faz-lhe um aceno para que se aproxime, pois não pode mais levantar o corpo enrijecido. O porteiro precisa curvar-se profundamente até ele, já que a diferença de altura mudou muito em detrimento do homem. ‘O que é que você agora ainda quer saber?’, pergunta o porteiro, ‘você é insaciável’. ‘Todos aspiram a lei’, diz o homem, ‘como se explica então que em tantos anos ninguém além de mim pediu para entrar?’. O porteiro percebe que o homem já está no fim, e para ainda alcançar sua audição em declínio ele berra: ‘Aqui ninguém mais podia ser admitido, pois esta entrada estava destinada só a você. Agora eu vou embora e fecho-a’

Franz Kafka, O Processo. Tradução do alemão e posfácio: Modesto Carone, Editora Brasiliense, 1988, pp. 230/239.

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pedro s.
terça-feira, junho 14, 2005

02:08 -

Minha afilhada querida é uma escritora \o/, depois de encher o saco para que ela voltasse a postar seus textos por aí, eu trago um para cá como recordação, talvez propaganda ¬¬'. Por Clarice Rigotti e sem título...

"Tá faltando alguma coisa
Essa insatisfação que a gente sente
Ou solidão permanente
Tem que estar faltando alguma coisa"
(Raul Seixas)



Mais uma Sexta-feira. Ela entrou no JK vazio. Apenas a cama num canto, um quadro da revolução francesa noutro; alguns livros e papéis quase empilhados no chão. As malas eram seu guarda-roupa, e a cozinha, sem comida, indicava como vinha se cuidando. Vestia o que tinha na frente e comia o que o dinheiro dava. Andava lendo só obras light, das décadas de 50 e 60. Não andava com a cabeça para outras coisas.

A moça era diferente dos demais, meio estranha, sentia que tinha um problema, só não entendia o porquê, já que aquilo que enxergava ser seu problema, parecia-lhe, também, ser sua dádiva, seu talento: o que a diferenciava dos outros mortais. O mesmo que a fazia sofrer era o que lhe massageava o ego ao amanhecer, e durante o dia, todos os dias. Por isso, até sem querer, alimentava sua tristeza pensando que alimentava sua alma.

Naquele dia tinha chegado em casa depois de uma fria caminhada entre as velhas conhecidas luzes alaranjadas do Bom Fim. Abriu a porta e viu o preto e o branco de seu apartamento. Talvez o colorido que conhecesse em sua vida nunca fosse mesmo entrar em sua casa. E aquela noite tinha mostrado exatamente isso. Vai ver o destino da moça era mesmo despertar a cor na vida de outros, mas nunca na sua. Quem sabe essa não seria sua saga? Fingiu para os livros ao seu redor que aquela descoberta lhe tinha tirado o grande peso que carregava nas costas.

Sentou na cama e com as mãos procurou a camisa de dormir. Não a achou. Abriu os olhos e investigou um pouco por entre os lençóis, mas não a enxergou: seu olhar já estava muito embaciado, ou pelo álcool ou pelas lágrimas furtivas que insistiam em cair. Melhor seria dormir nua. Não queria mesmo sentir o cheiro Dele naquela camisa velha. Os fatos estavam aos poucos clareando. Ela não queria mais Ter que implorar por um de seus beijos. Aquela noite teria sido definitivamente a última vez que ela lhe tinha olhado suplicante por carinho, que ele lhe dera por pena.

Deitou-se sob os finos cobertores cinza, naquela noite gelada de Porto Alegre. Sabia que o que existira entre eles havia acabado, embora não conseguisse entender. No fundo ainda acreditava que usaria seu melhor vestido e dançaria com ele até a terra virar céu - mas nunca admitiria isso, nem para si mesma. Pareciam Ter chegado tão perto!, ela não queria desistir, mas ele queria, o que a deixava sem armas. Realmente não era o romance perfeito, como nada em sua vida alguma vez o tinha sido. Por que acreditara?

Não conseguia, porém, pensar. Foi uma das raras vezes que não divagou sobre sua infelicidade inerente. Só conseguiu se encolher num canto da cama. A tristeza que vinha lhe perseguindo finalmente a alcançou: não conseguiu mais fugir, não naquela noite. A dor toda veio para fora. Um sentimento que não sabia de onde vinha, que não conhecia guardar dentro de si. Agora as lágrimas não mais caiam, mas jorravam de seu olhos, acompanhadas de soluços e gemidos, porque a dor era tão grande! Não entendia o que a machucava tanto! Era um vazio de morte, de quando não conseguimos imaginar a vida sem uma pessoa, mesmo sendo essa a verdade. O amor tinha morrido, e ele era sua única família, sua única esperança de, na vida, ser feliz. Não era e, agora, nunca seria.

Muitas conquistas lhe pareceram possíveis, mas nada era interessante. Nem outro amor, nem grana, nem filhos, nem sapos. O branco e preto do apartamento iam se misturando aos soluços e aos gritos, e tudo era cada vez mais cinza. Os livros pareciam jornais, nada mais lhe era familiar. As roupas pareciam de outras pessoas, os lençóis, o cheiro..

E pensou que, depois da histeria de lágrimas, a noite iria embora e o sono a carregaria. Nenhum dos dois, entretanto, a socorreu. Estava cansada, mas não conseguia fugir para os sonhos. Não conseguia fugir. Era horrível, estava trancada na noite mais longa da sua vida, na insípida realidade da solidão. Estava gritando por ajuda e as paredes lhe encaravam imóveis, como os amigos que pensara ter. O que poderia fazer? A vida era fumaça, e por mais que esperneasse, havia coisas que nunca conseguiria mudar.

Levantou e pegou um livro. "Feliz Ano Novo", Rubem Fonseca. Mais uma vez enxergou sua vida com uma dose forte de violência e incompreensão. Achou que estava melhorando, mas eram apenas mais drogas que injetava direto na alma. Leu um conto, em seguida outro. Depois do terceiro fechou o livro e voltou a pensar no mundo e nas suas loucuras. Voltou a se sentir a única sã no meio daquela porra toda. Resolveu ir sepultar seu amor perdido, acabar para ela mesma aquele romance que nascera condenado pelas circunstâncias. Resolveu ir enterrar aquela camisa dele que costumava dormir. Botou seu melhor vestido, aquele preto, e foi, de havaianas, até a redenção para o funeral. Era quase manhã - mais um quase! - mas não demoraria muito. Não haveria discursos nem flores. Iria arrancar um pouco de grama e esconder a camisa sob alguma terra.

Desceu as escadas feito um zumbi. Não acreditava no que estava fazendo, novamente sentia que flutuava sobre sua vida. Viu os bares todos fechados, atravessou a Osvaldo calmamente. Abaixou-se sob uma árvore. Ouviu um barulho, algumas risadas. Virou-se para ver se não era nenhum conhecido, mas não viu muito. Levou um soco no rosto e não enxergou mais nada.

Que ironia, no preto e branco do jornal do dia seguinte, Ele leu uma nota na coluna policial e chorou. Ninguém saberia dizer pensando no que.

A_Clara, né?
http://a_clara.blogspot.com

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pedro s.

01:32 - nei lisboa

Depois de tanto tempo, posto as devidas homenagens ao grande músico (um dos maiores do Rio Grande) que é Nei Lisboa, o qual inspirou o nome deste humilde troxinho. Por aqui deixo algumas passagens de suas letras e a recomendação de "Carecas da Jamaica" de 1987; entretanto, os discos mais atuais seguem o mesmo alto nível.

"Não ando do lado da lei
E a lei não foi idéia minha
Mas mesmo que o mundo não gire
Na velocidade que eu queria
Alguns edifícios por dia
Desabam dentro da avenida
E salva-se a filosofia
Minha gata não insista
Disneylândias não vão te levar pro céu
Nem o céu dessas revistas
Que ilumina o teu barquinho de papel
Minha gata não insista" - Deixa o Bicho

"Se me derem um pedaço de plutônio
Minha turma se encarrega de explodir
A pobreza das idéias dessa gente
Que comanda o shopping-center do país
...
Vinde a mim as criancinhas do Nordeste
Que eu ensino a fome a receber cachê
Deixa estar, Godard, que a estrela do Oriente
Nos enreda nessa rede de TV" - Carecas da Jamaica

"E mais dia menos dia
Tudo se cria tudo se perde
Ninguém se espanta que algo levante
Algum tenente algum demente
Inventa o trono e senta
Poderoso rei dos animais" - Rio by Night

"O que perdi não devolvem
Mas vou buscar com um revólver
O que ganhei nao é posse
Sou um canal tudo passa
O que falei não se apaga
A vida é uma palavra
O que matei não prestava
Fiz tudo por minha alma" 
- Declaração (Poema de Nei Duclós, musicado por Mutuca e pelo Nei)*

"Chimarrão crioulo melhor com muito gererê"

* peço desculpas ao autor original, já que o site passou anos com a referência errada!

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pedro s.
segunda-feira, junho 13, 2005

17:36 -


stalker - andrei tarkovsky
Aluno brilhante no colégio, cursou Física e Matemática pura, formou-se como primeiro da turma em ambas; pós-graduação, mestrado e doutorado baseados na teoria da unificação dos campos. Tinha muito potencial - todos diziam - e almejava descobrir a verdade a respeito da natureza sub-atômica. Vinte longos anos de estudo passaram-se até deparar-se com uma nova verdade, acreditando (ele e todo resto) ter descoberto a verdadeira explicação para a mecânica das partículas, morreu tão infeliz quanto qualquer homem: saber mais não fez a menor diferença.

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pedro s.
sexta-feira, junho 03, 2005

00:23 - Leituras

Narrativas do Espólio - Franz Kafka
Contos não publicados durante a vida do escritor, provavelmente material que ele dava menos valor. Como sempre, está presente o estilo "seco-exato-poético" do tcheco que passa por diversos temas sempre deixando aquele aperto no peito enquanto você lê. Vale a pena pro pessoal que gosta da forma como ele escreve e já leu suas obras maiores (tratando-se de contos/histórias curtas), como, O Artista da Fome e a Construção (meu conto favorito), Um Médico Rural, o Veredicto e Na Colônia Penal e, é claro, A Metamorfose.

Pequena Fábula
"Ah", disse o rato, "o mundo torna-se a cada dia mais estreito. A princípio era tão vasto que me dava medo, eu continuava correndo e me sentia feliz com o fato de que finalmente via à distância, à direita e à esquerda, as paredes, mas essas longas paredes convergem tão depressa uma para a outra, que já estou no último quarto e lá no canto fica a ratoeira para qual eu corro." -"Você só precisa mudar de direção", disse o gato e devorou-o.



O Ovo Apunhalado - Caio F. Abreu
Livro de contos, anterior ao Morangos Mofados, que já tinha lido, e um pouco inferior. Os contos misturam a dura realidade observada com a "fabulação imaginária", passando por situações de violência e amoralidade. Mistura o prazer de uma boa leitura com a ânsia originada em algumas de suas passagens, sei lá, conflitante e belo :)

"O que eles deixaram foram estes postulados: importante é a luz, mesmo quando consome; a cinza é mais digna que a matéria intacta e a salvação pertence apenas àqueles que aceitarem a loucura escorrendo em suas veias." - Eles

Uma Veste Provavelmente Azul
Eu estava ali sem nenhum plano imediato quando vi os dois homenzinhos verdes correndo sobre o tapete. Um deles retirou do bolso um minúsculo lenço e passou-o na testa. Pensei então que o lenço era feito de finíssimos fios e que eles deviam ser hábeis tecelões. Ao mesmo tempo, lembrei também que necessitava de uma longa veste: uma muito longa veste provavelmente azul. Não foi difícil subjugá-los e obrigá-los a tecerem para mim. Trouxeram suas famílias e levaram milênios nesse trabalho. Catástrofes incríveis: emaranhavam-se nos fios, sufocavam no meio do pano, as agulhas os apunhalavam. Inúmeras gerações se sucederam. Nascendo, tecendo e morrendo. Enquanto isso, minha mão direita pousava ameaçadora sobre suas cabeças.

...

"Lúcia grita, mas é tarde demais. Vejo minha casca clara partir-se inteira em cacos brilhantes que ficam cintilando pelo chão do banheiro. O sangue escorre e eu, agora, também estou no céu com diamentes."



O Guia do Mochileiro da Galáxia - Douglas Adams
Depois dos dois livros "pesados" eu fui ler essa pequena e viciante maravilha. Um ótimo humor, misturando ateísmo, teorias científicas, crítica social e um pouco de tudo mais. Incrível como ele é leve e agradável, depois que você começa é praticamente impossível parar até chegar no final. Diversão garantida!
Sinopse: A terra é destruída por aliens para a construção de uma via espacial, Ford Prefect (um alien disfarçado de ator desempregado e esquecido na terra por 15 anos) salva seu amigo Arthur Dent pegando carona em uma das naves que vieram fazer o trabalho. A partir daí a coisa acontece da maneira mais estapafúrdia possível, e nós acompanhamos as aventuras de Dent enquanto ele descobre a verdade por trás da criação da terra. DEMAIS!
Oh sim, amanhã, o filme baseado nesse livro vai ser lançado aqui no Brasil, vamos ver no que que dá ;)

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pedro s.
quinta-feira, junho 02, 2005

11:19 - Edukators - Die Fetten Jahre sind vorbei

Prólogo
Fazia muito tempo (se é que já tinha acontecido alguma vez) que os filmes que eu escolhia pra ver com a tchurma não "satisfaziam" a todos. Bom, desse todo mundo gostou, adorou, achou demais, etc. Portanto, acho que vale a pena dar uma comentada =)

Filme alemão de 2004, dirigido por Hans Weingartner, com o carinha do adeus lênin, conta a história de dois amigos que entram em mansões da "alta burguesia da cidade", desarrumam tudo e se vão sem roubar nada, deixando um bilhete para amedrontar os moradores. As coisas ficam bem mais complicadas quando a namorada de um deles entra no meio do esquema e eles são vistos por um executivo que acabam seqüestrando para tentar dar um jeito na merda toda.
A partir daí, o filme explora diversos temas (vários "clássicos") a respeito das ideologias de esquerda, dos movimentos juvenis, da sociedade capitalista atual, do que se pode/deve fazer, etc


É um filme extremamente divertido - principalmente pra quem tem algum ideal mais "esquerdista" - e leve. A camêra na mão pode incomodar alguns e dar uma impressão de amadorismo, mas acaba deixando tudo mais real. Pode parecer por vezes meio forçado, devido ao apelo "literário" da exposição de algumas idéias, o que de maneira geral se faz necessário e não prejudica muito o filme.

Notas:
Geral: 4/5
Técnica: 3/5
Roteiro: 4/5
Atmosfera: 4/5
Rever? Sim

Ao som de A Silver Mt. Zion, álbum Horses in the Sky.

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pedro s.

10:53 - Mundo Livre S/A - O Outro Mundo de Manuela Rosário



Último CD lançado pelo grupo pernambucano Mundo Livre S/A, o outro mundo de manuela rosário é extremamente panfletário, musicalmente experimental e excessivamente declamativo (em um tipo de bom sentido...).

O show dos caras é muito bom, eles tem muita força e conseguem fazer a galera dançar e cantar feliz mesmo quando não dá nem pra ver a banda (o show era no ocidente, ano passado), grande momento. Já na merda do fuse college, zeroquatro (o vocalista) deu um sermão na platéia que estava lá pra ver cpm22 e coisas do tipo, depois de chamar todos de tabacudos, escravos de gravadora, aqueles que só ouvem o que toca nas rádios, disse que o que acontecia era um movimento cultural no brasil que eles desconheciam, e depois mandou um: "vamo, vamo nessa merda mesmo".


a banda

Agora a letrinha de uma pequena-grande música-mensagem desse CD...

"Virtual, inaldível,
voa certeiro, sorrateiro,
rápido e mortal.
Não existe guerra alguma
apesar de todo esse barulho infernal.
É só o capital cruzando o mar,
ele hoje voa muito mais rápido e certeiro que qualquer míssel.
E quando volta da missão
tudo que deixa é terra arrasada,
pois seu poder destruidor é muito mais fulminante e duradouro."

Clique aqui para baixar gratuitamente e legalmente uma música do MLSA.

Ao som de Jorge Drexler, Al Otro Lado del Rio - Showzão no próximo sábado...

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pedro s.

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