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minha gata não insista, Disneylândias não vão te levar pro céu

Somos contos contando contos, nada. - Fernando Pessoa 

quarta-feira, julho 26, 2006

03:19 - Lá a existência é uma aventura de tal modo inconseqüente

Despedido: aquela velha e batida história de descontinuação de função, redução de custos e a porra toda. Sorte dele que com a grana do fundo de garantia somada às economias dos últimos anos ele teria o dinheiro que precisava. Para nunca mais trabalhar.
Sentou-se na cadeira de balanço que havia sido de sua bisavó, botou Exile on Main St. no toca-discos e ficou a fumar um bom fumo no cachimbo e a divagar sobre tudo aquilo. Havia anos já tinha decidido que não nada daquilo tinha Sentido e que ele nunca teria o que era preciso para deixar a Sua marca nesse mundo. Desistira de ter filhos, passar à diante os genes meia-boca parecia uma atitude covarde e lugar-comum para tentar dar sentido a esse cu de existência.
Dessa forma, sentia-se como um exilado ali no centro do sistema, na rua principal. Um alien entre os bons cidadões vivendos seus bons e corretos sonhos de vida capitalista. Nada contra, mas não dava mais para integrar-se. O trabalho como analista de sistemas tinha sido um saco desde que começara a aprendê-lo na faculdade. A vida amorosa foi nula, a sexual fora pouco melhor e, sabia, estava acabada.
Há uns bons três achos já tinha decidido vender o apartamento -e a vida na capital- e ir exilar-se de verdade, comprar uma terra pelas bandas de onde tinha sido a casa de seus avôs e levar uma vida solitária e auto-suficiente. Quem sabe escrevendo poemas bucólicos ou odes contra o modo de vida tecnológico.
No dia da venda do apartamento, comemorou o fim de dois meses de agonia com um porre homérico, três garrafas de um vinho chileno mediano compradas no Zaffari deram o tom. Depois bebeu todos os restos de todas as garrafas que tinha em casa. Pretendia parar de beber de vez, tinha medo de acabar cirrótico como o falecido pai. Não lembra de como vomitou metade da sala e mijou o guarda-roupa. Só que teve a pior ressaca de sua vida e que nem com quatro aspirinas a porra da dor de cabeça passou.
Atrasou em um dia a entrega do apê, pagou uma multa e tudo bem. Como tinha vendido toda a mobília junto, botou as roupas preferidas em uma mala e encheu a outra com os objetos e livros indispensáveis. Entrou no ônibus rumo ao sul do país.
Um carreto iria levar o som, o colchão e mais alguam porcaria mais tarde, quando já tivesse arumado uma casa.

Pouco depois do amanhecer no ônibus, lia em voz alta Vou-me Embora pra Pasárgada e, com lágrimas nos olhos, indagava-se "que diabos é alcalóide?".

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pedro s.

02:13 - Flowers

Na prateleira do banheiro, encontram-se os maravilhosos comprimidos pequenos e amarelos.

Verônica acorda bem de manhã, após um tranqüilo sono químico com sonhos mais realistas e excitantes que o dia estendido a sua frente. Preparar o lanche dos filhos costumava ser bem mais prazeroso, hoje ela acha tudo um saco, mas tudo bem, isso fica mais fácil depois do primeiro cigarro da manhã. Sanduíches bem embalados e recheados com as maiores maravilhas da cozinha saudavelmente correta: alface orgânica, tomates frescos, queijo livre de gordura e um peito de peru magro. Uma fina camada de margarina vegetal livre de
trans não pode fazer mal.

What a drag is getting old

Café bem quente com bastante creme e uma dose de conhaque é o que ela precisa pra acordar e finalmente desamassar a cara - após a água fria ter dado sua contribuição. Mais um cigarro enquanto anda de pés descalços pela grama úmida de orvalho parecer ser o ápice do dia. Acordar o marido sempre dá trabalho, mas o hábito ja extinguiu a chateação. Ele que se vire com seu suco de laranja natural. Pra ela, só duas torradas repletas de manteiga - nada se compara ao sabor da gordura animal - conseguem calar o estômago.

Still i'm gonna miss you

Não restou tempo para o banho, tudo bem, ninguém mais olha para ela no escritório mesmo. A saia provocante parou de dar resultados há anos e as pernas - mesmo com a meia - já não atraem os olhares dos colegas. Não que ela fosse se aventurar com eles, o
boost de auto-estima era o suficiente. Ou, quem sabe, o simples fato de saber que se eu quisesse...

Have you seen your mother, baby, standing in the shadows

Ela lembra ter achado divertido, nos primeiros tempos, o ambiente burocrático e sufocador e kafkiano do escritório. Com o tempo, o ar literário tornou-se puramente profissional e o profissionalismo tornou-se robótico. Nada além do salário (e do tédio maior de não ter emprego) mantinham verônica naquele ambiente pegajoso. Embora as mais novas leis estaduais proibissem o fumo num amplo perímetro, o ar parecia mais irrespirável. Para piorar a situação, a falta de nicotina incomodava bastante e os poucos intervalos para café e cigarros não restabeleciam o ânimo.
Infelizmente, a empresa adotou o método "deixe seu empregado feliz e aumente a produtividade", assim, todos os setores tinham seus horários de exercício, alongamento, ioga e essa merda toda. Poderia ser relaxante, se pelo menos a mente acompanhasse o corpo.

Let's spend the night toghether now

Chegou em casa e tomou quatro. As crianças pareciam passarinhos com vozes esganiçadas e enlouquecedoras que não paravam nunca. Uma dose de uísque com o maridão deixou tudo quase perfeito, a proposta era uma saída para jantar e depois um algo mais - caliente. Comeu bem, lembrou que havia engordado bastante nos últimos meses e logo esqueceu. O vinho subiu e desceu, ela estava mole, mas queria mais. Preferia um motel, ele quis dançar um pouco antes. Acabaram num clube badalado cherando coca com um antigo colega de Direito dele. Foi bom pra revigorar e quase enlouquecer. Ela já se excitava com um fim de noite a quatro. Mas não rolou nada. Cocaína é coisa de gente careta, lembrou.

Please Go Home

Texto corrido, quase beat, parecia a juventude. Sentou no laptop e martelou as teclas. Não tinha qualidade, entretanto quase sentia o sentimento. Meio falso, afinal, todo sentimento escrito é meio falso, pensou.

Deitou-se para ouvir os roncos dele - podre de bêbado. Foi até o banheiro e tomou mais quatro comprimidinhos, com largos goles de vodca após cada um. Sentia-se louca, sentia-se viva. Desejava verdadeiramente que aquele momento durasse pra sempre, e pra isso, sabia, não podia ficar parada, o momento tinha que seguir em frente, só assim seria prolongado. Ligou para o ajudante adolescente do escritório, ele demorou para atender... Eram cinco horas da manhã, o garoto estava dormindo, mas mesmo assim passou o endereço de um bom fornecedor. Fazia eras que ela não fumava aquilo, lembrava muito o passado hipster de seus pais, mesmo assim, queria, tinha um súbito desejo, como se estivesse grávida.

Ride On, Baby

Não comprou muito e pediu que fechassem pra ela. Fumou dentro do carro fechado, ficou quase mal de tão eufórica. Nenhum problema, voltou calma para casa e escreveu pequenas epifanias transcendentais no Notepad, porém não estava com muito saco pra isso. Pensou em se deitar, o
cansaço estava ali... Isso a desanimou bastante, lembrou de uma conversa que ouviu sobre Ritalina ser um bom estimulante, quase uma anfetamina e todas essas coisas. O filho mais novo sofria de DDA e não ia dar falta de alguns comprimidos. Três pareceu um número mágico.

Oh, la-la-la-ta-ta-ta-ta-la-la-la-la
Oh, la-la-la-ta-ta-ta-ta-la-la

O Sol já havia nascido há um bom tempo, quando ela levantou-se do transe sobre o sofá sob efeito daquilo. Já era hora de arrumar a casa para o novo dia e, no meio do caminho até a cozinha, ela sentiu o coração batendo descompassado algumas vezes antes de tudo apagar e ela cair de cara no chão.

They Just get married 'cause there's nothing else to do.

Um colapso - provavelmente por estresse - foi o diagnóstico do médico. Um tempo fora do trabalho e menos atribuições em casa deveriam resolveriam o problema. Ninguém mencionou overdose, ninguém fez testes, ninguém cogitou a hipótese.
Verônica, aos quarenta passados, tinha conseguido uma noite mais pirada que toda sua juventude. Vez ou outra, que mal havia, em fugir dessa rotina escabrosa com um pouco de auxílio químico.
Ah sim, o médico também aumentou a dose diária do Valium.

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pedro s.
terça-feira, julho 11, 2006

19:56 - Foi-se

Aquele que já tinha ido há muitos anos, dessa vez, foi pra não voltar mesmo. Syd Barret morreu e o mundo perdeu uma figura folclórica, a qual há mais de décadas não criava mais. Desse ponto de vista, não foi uma grande perda, né? Tudo bem, choramos pelo que ele costumava ser...

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pedro s.

Pedro S. S. 2005 > 2009 Creative Commons License
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