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minha gata não insista, Disneylândias não vão te levar pro céu

Somos contos contando contos, nada. - Fernando Pessoa 

terça-feira, junho 14, 2005

02:08 -

Minha afilhada querida é uma escritora \o/, depois de encher o saco para que ela voltasse a postar seus textos por aí, eu trago um para cá como recordação, talvez propaganda ¬¬'. Por Clarice Rigotti e sem título...

"Tá faltando alguma coisa
Essa insatisfação que a gente sente
Ou solidão permanente
Tem que estar faltando alguma coisa"
(Raul Seixas)



Mais uma Sexta-feira. Ela entrou no JK vazio. Apenas a cama num canto, um quadro da revolução francesa noutro; alguns livros e papéis quase empilhados no chão. As malas eram seu guarda-roupa, e a cozinha, sem comida, indicava como vinha se cuidando. Vestia o que tinha na frente e comia o que o dinheiro dava. Andava lendo só obras light, das décadas de 50 e 60. Não andava com a cabeça para outras coisas.

A moça era diferente dos demais, meio estranha, sentia que tinha um problema, só não entendia o porquê, já que aquilo que enxergava ser seu problema, parecia-lhe, também, ser sua dádiva, seu talento: o que a diferenciava dos outros mortais. O mesmo que a fazia sofrer era o que lhe massageava o ego ao amanhecer, e durante o dia, todos os dias. Por isso, até sem querer, alimentava sua tristeza pensando que alimentava sua alma.

Naquele dia tinha chegado em casa depois de uma fria caminhada entre as velhas conhecidas luzes alaranjadas do Bom Fim. Abriu a porta e viu o preto e o branco de seu apartamento. Talvez o colorido que conhecesse em sua vida nunca fosse mesmo entrar em sua casa. E aquela noite tinha mostrado exatamente isso. Vai ver o destino da moça era mesmo despertar a cor na vida de outros, mas nunca na sua. Quem sabe essa não seria sua saga? Fingiu para os livros ao seu redor que aquela descoberta lhe tinha tirado o grande peso que carregava nas costas.

Sentou na cama e com as mãos procurou a camisa de dormir. Não a achou. Abriu os olhos e investigou um pouco por entre os lençóis, mas não a enxergou: seu olhar já estava muito embaciado, ou pelo álcool ou pelas lágrimas furtivas que insistiam em cair. Melhor seria dormir nua. Não queria mesmo sentir o cheiro Dele naquela camisa velha. Os fatos estavam aos poucos clareando. Ela não queria mais Ter que implorar por um de seus beijos. Aquela noite teria sido definitivamente a última vez que ela lhe tinha olhado suplicante por carinho, que ele lhe dera por pena.

Deitou-se sob os finos cobertores cinza, naquela noite gelada de Porto Alegre. Sabia que o que existira entre eles havia acabado, embora não conseguisse entender. No fundo ainda acreditava que usaria seu melhor vestido e dançaria com ele até a terra virar céu - mas nunca admitiria isso, nem para si mesma. Pareciam Ter chegado tão perto!, ela não queria desistir, mas ele queria, o que a deixava sem armas. Realmente não era o romance perfeito, como nada em sua vida alguma vez o tinha sido. Por que acreditara?

Não conseguia, porém, pensar. Foi uma das raras vezes que não divagou sobre sua infelicidade inerente. Só conseguiu se encolher num canto da cama. A tristeza que vinha lhe perseguindo finalmente a alcançou: não conseguiu mais fugir, não naquela noite. A dor toda veio para fora. Um sentimento que não sabia de onde vinha, que não conhecia guardar dentro de si. Agora as lágrimas não mais caiam, mas jorravam de seu olhos, acompanhadas de soluços e gemidos, porque a dor era tão grande! Não entendia o que a machucava tanto! Era um vazio de morte, de quando não conseguimos imaginar a vida sem uma pessoa, mesmo sendo essa a verdade. O amor tinha morrido, e ele era sua única família, sua única esperança de, na vida, ser feliz. Não era e, agora, nunca seria.

Muitas conquistas lhe pareceram possíveis, mas nada era interessante. Nem outro amor, nem grana, nem filhos, nem sapos. O branco e preto do apartamento iam se misturando aos soluços e aos gritos, e tudo era cada vez mais cinza. Os livros pareciam jornais, nada mais lhe era familiar. As roupas pareciam de outras pessoas, os lençóis, o cheiro..

E pensou que, depois da histeria de lágrimas, a noite iria embora e o sono a carregaria. Nenhum dos dois, entretanto, a socorreu. Estava cansada, mas não conseguia fugir para os sonhos. Não conseguia fugir. Era horrível, estava trancada na noite mais longa da sua vida, na insípida realidade da solidão. Estava gritando por ajuda e as paredes lhe encaravam imóveis, como os amigos que pensara ter. O que poderia fazer? A vida era fumaça, e por mais que esperneasse, havia coisas que nunca conseguiria mudar.

Levantou e pegou um livro. "Feliz Ano Novo", Rubem Fonseca. Mais uma vez enxergou sua vida com uma dose forte de violência e incompreensão. Achou que estava melhorando, mas eram apenas mais drogas que injetava direto na alma. Leu um conto, em seguida outro. Depois do terceiro fechou o livro e voltou a pensar no mundo e nas suas loucuras. Voltou a se sentir a única sã no meio daquela porra toda. Resolveu ir sepultar seu amor perdido, acabar para ela mesma aquele romance que nascera condenado pelas circunstâncias. Resolveu ir enterrar aquela camisa dele que costumava dormir. Botou seu melhor vestido, aquele preto, e foi, de havaianas, até a redenção para o funeral. Era quase manhã - mais um quase! - mas não demoraria muito. Não haveria discursos nem flores. Iria arrancar um pouco de grama e esconder a camisa sob alguma terra.

Desceu as escadas feito um zumbi. Não acreditava no que estava fazendo, novamente sentia que flutuava sobre sua vida. Viu os bares todos fechados, atravessou a Osvaldo calmamente. Abaixou-se sob uma árvore. Ouviu um barulho, algumas risadas. Virou-se para ver se não era nenhum conhecido, mas não viu muito. Levou um soco no rosto e não enxergou mais nada.

Que ironia, no preto e branco do jornal do dia seguinte, Ele leu uma nota na coluna policial e chorou. Ninguém saberia dizer pensando no que.

A_Clara, né?
http://a_clara.blogspot.com

pedro s.

Pedro S. S. 2005 > 2009 Creative Commons License
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