A mãe puxava com força pelo braço, tinha que atravessar logo a avenida, estavam atrasados e ela ainda tinha que fazer o cabelo. Os olhos do menino não desgrudavam da vitrine, foi sendo arrastado meio de lado quando abriu uma brecha entre o tráfego. Viu o objeto de plástico colorido sumindo na distância e não agüentou, parou no meio da rua e, com os olhos cheios d'água, bateu pé para voltar. Um Passat antigo freiou em cima dos dois, o motorista botou a cabeça pra fora e encheu a mulher de desaforos. Ela, agora ainda mais irritada com a teimosia do muleque, baixou a cabeça para o motorista, olhou com uma certa raiva para o filho e levou-o pela orelha até a relativa segurança da calçada. Dentro de algum tempo a ansiedade passaria e o coração da criança voltaria ao ritmo despreocupado, assim que ele esquecesse do forte desejo pelo futuro brinquedo novo que nunca teria.
pedro s.