Fotógrafo, de alguma maneira estudioso dos hábitos humanos - quem dirá antropólogo? Entretanto, preferia realmente as estruturas, enxergava nelas uma beleza transcendental, em suas linhas simples e simétricas, suas fachadas degradadas pelo tempo. Aquilo era fotografia.
Despertou mesmo para a coisa ainda jovem, assistindo Antonioni. A fotografia era uma possibilidade de fuga e de arte, a única que parecia estar ao seu alcance. De qualquer maneira, não é disso que quero falar. O problema todo é que a fotografia acabou por se tornar uma obsessão, logo já não saia mais de casa sem a câmera pendurada e alguns rolos de filme sobressalentes. Não podia mais olhar para o mundo a sua volta. Se não tirasse uma fotografia, era como se nunca estivesse estado ali.
Dentro de algum tempo - sua esposa refere cerca de 15 anos - não conseguia mais memorizar nada. Comprou uma câmera de revelação instantânea e fotografava tudo. Ao acordar, tinha que se clicar ao espelho, escovando os dentes. De outra forma, não conseguiria saber se já tinha feito tal higiene. A companheira logo notou a alteração e tentou avisá-lo, disse que ele devia procurar ajuda pois a situação tornaria-se insustentável.
Ele não ouviu, não só achava tudo aquilo normal, como via em seus closes corriqueiros uma beleza extrema. Um dia, passou 40 minutos estático observando a espuma branca derivada do dentifrício em volta de sua boca. Não conseguiu estabelecer a data da foto e acabou saindo de casa sem passar no banheiro.
Ao amanhecer do dia 7 de setembro de 1986, sua esposa acordou sobressaltada e não encontrou ele em lugar algum da casa. Somente, sobre o travesseiro, uma foto 15x10 de seu sorridente marido acenando "Adeus!".
Dentro de algum tempo - sua esposa refere cerca de 15 anos - não conseguia mais memorizar nada. Comprou uma câmera de revelação instantânea e fotografava tudo. Ao acordar, tinha que se clicar ao espelho, escovando os dentes. De outra forma, não conseguiria saber se já tinha feito tal higiene. A companheira logo notou a alteração e tentou avisá-lo, disse que ele devia procurar ajuda pois a situação tornaria-se insustentável.
Ele não ouviu, não só achava tudo aquilo normal, como via em seus closes corriqueiros uma beleza extrema. Um dia, passou 40 minutos estático observando a espuma branca derivada do dentifrício em volta de sua boca. Não conseguiu estabelecer a data da foto e acabou saindo de casa sem passar no banheiro.
Ao amanhecer do dia 7 de setembro de 1986, sua esposa acordou sobressaltada e não encontrou ele em lugar algum da casa. Somente, sobre o travesseiro, uma foto 15x10 de seu sorridente marido acenando "Adeus!".
pedro s.